Por Henrique Augusto Pires
Ela entrou pela janela do meu apartamento. Sem timidez, com voz e graça. Era tempo dela, ou melhor, mês. A festa junina talvez seja a memória (além dos nossos pais e irmãos, obviamente) que mais temos em comum. Quem nunca fora por alguns dias um típico caipira? E as meninas com o charme das tranças e pintas e vestidinho todo enlaçado.
Nem todas tem fogueiras e o balão é melhor ficar pregado para não pregar desastres. As barracas e as prisões encadeadas pela pelas paixões alheias. A quadrilha que contagia com o inesquecível “olha a cobra!” e depois todos de volta a caminho da roça. Certo que a roça quase sumiu e os bolos quase todos vem em saquinhos de supermercado.
Nas capitais espalhadas pelos bairros e no interior ainda perto de igrejas matrizes onde lá também marcam o corriqueiro passeio com sorvete. Estas são as minhas memórias de interiorano quando dançava com aquela que veio anos depois ser a paixão mais viva por uma mulher.
Destemperanças à parte a festa junina ainda nos anima. Nos faz querer arrastar pé e tentar forrosear. Querer pescar com a alegria de uma criança e tentar lá conseguir uma prenda para presentear nossa própria prenda. E que os pequenos aprendam estas coisas simples como bolo de fubá, terra, enredar uma peça com as próprias mãos que de muitos são a memória vida de anos de labuta.